O brasileiro Carlos Guerra Júnior, também é rap e utiliza a alcunha Mossoró, para cantar. É ele o autor do rap que se segue. A sua pesquisa de doutoramento é sobre o rap como activismo político no espaço lusófono. Já fez inclusive um trabalho, em Angola, sobre o rapper MCK.
Ninguém entende porque eu falo tanto no Luaty Beirão
Esse assunto parece repetição
Nem sei mais se alguém vai prestar atenção
Ele resumiu tudo em uma frase
Que é o título do Kamikaze
Que resume uma história
Que deveria ficar na memória
Mas infelizmente continua
Essa é a verdade crua
Eu não sei de tudo!
Mas vou ver se ajudo
É uma tentativa de contribuição
Para ajudar nessa missão
Existem várias formas de lutar contra a ditadura
Uma delas, é valorizando sua cultura
Como o Liceu, mestre do Ngola, fez
Cantou música de fado para agradar português
Mas em um ritmo diferente!
Que só reconhecia quem fosse “da gente”!
Foi o ritmo africano que ele mandou
Os brancos vaiaram isso no show
Ele foi pra prisão
Mas teve gente que continuou a missão
Que era a luta anti-colonialista
Teve guerra, não foi só através de artista
E na hora que o tugas vazaram
Muitos acreditaram
Que tinha chegado a liberdade
Olha, mudamos a realidade!
Agora, o presidente é o Agostinho
Mas o poder nele mudou o caminho
Pra entender o que estou falando
Tem que saber quem foi o David, o Artur e o Urbano
Tem que se lutar pela união e contra o preconceito
Por isso pro Teta, eu digo: máximo respeito
E se não entendeu o que Mossoró falou
É código nosso, é tipo griot
Para criticar depois disso e falar das dores…
Só fora de Angola, tipo Bonga e Paulo Flores!
Mas depois da primeira eleição
Parecia que tinha chegado uma transformação
Por isso os moleques do rap assumiram a missão
Depois do embrião, chegaram os Filhos, da ala leste!
Chamando o boi pelo nome, mostrando quem é a peste!
Ai tipo assim, muita gente teve coragem de arriscar!
Nessa luta de buscar transformar
O mais ousado foi a trincheira do MCK
Cherokee, ao cantar na rua, vazou
O kamikaze se manifestou
E a luta continuou
Chegou o Kid, o Carbono para o bonde fechar
Ai teve a morte do artista e resolveram manifestar
A partir de 2011 a luta foi pra rua
Porque quem é verdadeiro, não só fala: actua!
Ai veio combater o exército inteiro
Mas eu digo, meu parceiro
Só reconheço um brigadeiro
Essa história é realidade, acredita!
Cassule e Kamulingue pagaram com a vida
E aqueles que lutavam contra o imperialismo e a colonização
Hoje virou literato-intelectual e não reconhece o poder da manifestação!
Quando o poder abusa!
Hoje só um dar voz ao povo: Agualusa!
Os manifestantes, ao invés de tentar ser “o intelectual”
Busca tratar todo mudo igual
E não pode ser comprado
Porque o circuito é fechado
Tão fechado que consegue enfrentar o medo
Por isso, que os 17 foram parar no degredo
E tipo, eles ressurgiram
As forças se emergiram
Rolou a greve de fome e eu acompanhava todo dia
Bora comer mano, para lutar pela democracia
Mas a mensagem sem palavras chegou
Luaty foi fénix e se reinventou
O ZéEdu finalmente parece que vai vazar
E eu quero estar vivo pra ver como presidente o MCK.